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ToggleEm um debate sobre mobilidade urbana realizado ontem (13) na HotMilk, ecossistema de inovação da PUCPR, os participantes destacaram a oportunidade de aproveitar um mundo em mudança para repensar as ações nessa área.
O presidente executivo da CWBUS Inovação, Luiz Alberto Lenz César, disse que, na atual pauta da sustentabilidade, o transporte coletivo é o meio menos poluente e o que movimenta mais pessoas, necessitando, portanto, de políticas públicas de prioridade nas vias.
No entanto, ele fez uma ressalva: “Mas, se não for oferecido o que o passageiro exige em termos de previsibilidade de viagem, rapidez e conforto, ele vai comprar um carro, uma moto, trazendo os conhecidos prejuízos a toda a população, como mais congestionamentos, mais poluição, mais acidentes”.
O head da marca Mobilize da Renault no Brasil, Ricardo Mendes, afirmou que a indústria automotiva passa por três desafios. O primeiro é o fato de o carro particular ficar 90% do tempo parado. O segundo é que, após três anos, o veículo novo perde 30% de seu valor. Por último, a indústria automotiva é responsável por 15% das emissões de CO2.
Mendes acrescentou que os clientes estão mudando também. Ele deu como exemplo o fato de que poucas pessoas atualmente visitam as concessionárias para comprar um carro e que a geração que hoje tem 18 anos não quer mais ter a posse de um veículo, devido aos problemas citados acima. “As montadoras vão ter que parar de vender carros e substituir essa atividade pela oferta de serviços”, observou ele.
O professor de urbanismo da PUCPR, André Turbay, disse que os gargalos de mobilidade que as cidades enfrentam têm ao menos duas razões principais: uma histórica formação carrocêntrica da sociedade – em que possuir um carro é um desejo de consumo – e um ponto de afirmação social, na qual ter um carro é visto como sinônimo de sucesso pessoal.
“Qual é a nossa responsabilidade como indivíduos nesse processo?”, refletiu Turbay. “Vejo que a mudança de mentalidade vem ocorrendo, mas ainda é bastante lenta”. Ele citou Paris como exemplo de uma cidade que aproveitou a pandemia da Covid para aumentar significativamente o número de ciclovias.
Eletromobilidade
A entrada em operação de veículos elétricos também foi tema do debate. O superintendente de inovação do Estado do Paraná, André Telles, destacou que o governo isenta de IPVA veículos elétricos. Ele disse, porém, que há ainda um longo caminho a ser vencido, tanto no barateamento desses veículos como na questão da infraestrutura para recarga.
Mendes concordou e acrescentou que não dá para simplesmente trazer o mesmo modelo que atende a Europa para rodar no Brasil. “Temos que avançar etapas até chegar na eletrificação”, comentou. “Eles estão dez anos na nossa frente”.
Lenz César lembrou que um ônibus elétrico custa três vezes mais que um similar a combustão. “Quem vai pagar essa conta?”, questionou. “Além disso, as garagens não estão preparadas para abastecer toda uma frota de ônibus elétricos”.
No fim, todos agradeceram pelo debate e destacaram que é justamente esse tipo de discussão – que reuniu poder público, empresas e academia – que faz o assunto avançar. “Ninguém vai conseguir fazer nada sozinho”, resumiu Mendes.
O encontro foi promovido pela Renault e pela HotMilk e teve a mediação de Gustavo Comeli, consultor em inovação.